Filhos com microcefalia: mães são protagonistas na luta contra o Zika Vírus em pesquisa coordenada por professora da UFF

nov 28, 2019Notícias

Em 2015 mais de 2 mil casos de microcefalia em recém-nascidos foram identificados em diversas regiões do país, principalmente no Nordeste, após um pico epidêmico do Zika Vírus no início daquele ano. Em função dos impactos devastadores causados nas famílias e nas crianças, no entanto, assim como da proporção com que o fenômeno mobilizou a saúde pública nacional e internacionalmente, ele permanece ainda como um desafio presente. Passados quatro anos, o tema continua sendo investigado por muitas organizações de saúde e pesquisa científica do país e fora dele.

A Universidade Federal Fluminense, por exemplo, é uma delas. Através da sua Pós-Graduação em Ciências Médicas e Patologia e da Pós-Graduação em Biologia Parasitária, a instituição integra uma equipe interdisciplinar de pesquisa, constituída por 36 profissionais, entre eles, pesquisadores da Fiocruz e da La Jolla Institute for Allergy and Immunology, da Califórnia. O grupo, que reúne infectologistas, pediatras, neurologistas e radialogistas, entre outras especialidades médicas, tem como objetivo observar se as células de defesa do organismo atuam na proteção contra a infecção ao entrarem em contato com o Zika Vírus.

A pesquisa está sendo realizada através da coleta de amostras de sangue de mães que tiveram Zika na gestação e também de seus filhos expostos ao vírus durante a gravidez. Por meio da utilização de diferentes métodos imunológicos de ponta, até o momento foi possível observar nas pesquisas que 100% das mulheres que tiveram bebês assintomáticos e 57% das mulheres que os tiveram com Síndrome da Zika Congênita (SZC) têm células imunes que respondem às proteínas do Zika Vírus. Além disso, com relação às crianças, independentemente de serem acometidas ou não com a SZC, cerca de 70% delas têm células imunes que respondem às proteínas do vírus. Portanto, segundo a coordenadora da pesquisa Claudete Araújo Cardoso, infectologista pediátrica e professora do Departamento Materno-Infantil da UFF, “a maioria das mães e filhos que foram estudados possuem células imunes aptas a responderem ao Zika Vírus, sugerindo assim que desenvolveram boa imunidade ao vírus”. 

“As pesquisas são necessárias para esclarecermos as dúvidas e ajudar futuras gerações. Infelizmente, fomos nós as acometidas pela síndrome, ocasionada pela falta de estrutura e política de combate ao mosquito”, Mayrielly Wiltgen do Nascimento, mãe de Catarina.

De acordo com a coordenadora, “a comunidade científica tem recebido esses resultados com muito otimismo, uma vez que tais achados mostram que se pode desenvolver imunidade contra o Zika Vírus após o contato com ele. Tal resposta tem impacto em nível local e também nacional, pois poderemos orientar as futuras gestantes em relação à proteção conferida por infecção prévia pelo vírus, reduzindo o estresse diante da possibilidade de se ter um bebê com a Síndrome da Zika Congênita”, destaca.

Trocando em miúdos, desenvolver imunidade significa que “quando somos infectados pela primeira vez por algum microorganismo que nunca tivemos contato, o corpo reage a ele através do sistema de defesa. Em geral, elimina o microorganismo e, assim, não ficamos doentes. Mas quando esse micro-organismo se multiplica com muita rapidez, não temos tempo de combatê-lo e adoecemos. Sempre há possibilidade de reencontrarmos esse mesmo micro-organismo em algum momento da vida. Portanto, nosso sistema de defesa será capaz de nos defender de forma mais eficiente e rápida, e assim não adoeceremos mais pela mesma enfermidade porque adquirimos imunidade”, esclarece Claudete.

A médica pediatra e pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da UFF, Renata Artimos Vianna, também integra o grupo multidisciplinar acompanhando as crianças expostas ao vírus Zika durante a gestação. Segundo ela, o Projeto Zika – Huap/UFF vai além da pesquisa, “principalmente pelo caráter de assistência e informação àqueles que sofrem com a angústia de uma doença debilitante. É importante para o aluno, contribuindo no aprendizado de pesquisa científica, para o paciente, que recebe uma assistência multidisciplinar, para o hospital, que incorpora um serviço de referência e para a saúde pública, colaborando no desenvolvimento de políticas públicas de prevenção e controle de epidemias, como a do Zika. Trabalhar com a professora Claudete e sua equipe é uma experiência única para mim”, destaca.

Mas outras pessoas também têm sido fundamentais para a existência e o sucesso da pesquisa, além da equipe multiprofissional envolvida. A coordenadora Claudete destaca a importância da participação das mães no projeto: “essas crianças e suas famílias foram vítimas de uma doença muito grave e todas, sem exceção, têm plena consciência do seu papel como produtores de conhecimento acadêmico. Mais do que simplesmente ‘objetos de pesquisa’, as famílias têm se sentido participantes ativas da produção do conhecimento e esse sentimento me enche de orgulho”, comemora.

Matéria na íntegra: site UFF

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