Há mais de quatro gerações ocupando o Quilombo da Fazenda Picinguaba, em Ubatuba, São Paulo, a comunidade quilombola trava disputas administrativas e judiciais por suas terras há dez anos com instituições de poder. A chegada do grupo de pesquisa Cartonomia ao território quilombola, utilizando técnicas, ferramentas e metodologias da Cartografia Social, é um marco importante para a administração desse conflito, incentivando a autogestão e autonomia territorial dessa comunidade.
O grupo de pesquisa é coordenado pela prof. Drª. Mara Edilara, professora e coordenadora da licenciatura em Geografia, no campus da UFF de Angra dos Reis. A experiência de tecnologia social “Cartografia Social e Autogestão Territorial: a experiência cartográfica do Quilombo da Fazenda” surge em 2018, coordenada também pela professora Drª. Mara Edilara, com equipe interdisciplinar, pois é composta por alunos das graduações de Políticas Públicas, Pedagogia e Geografia. A experiência valoriza o saber tradicional da comunidade em questão, para que possa ser criada uma representação gráfica de sua realidade local, levando em consideração todo o modo de vida que existe no Quilombo da Fazenda.
Sendo a cartografia uma área temática da Geografia, que compreende o conjunto de estudos e técnicas para a elaboração cartográfica, a cartografia social é uma ferramenta e metodologia da Geografia, ao mesmo tempo que também é instrumento de luta, resistência e empoderamento dessa comunidade tradicional quilombola.
Muitos mapas já tinham sido criados e expostos aos quilombolas, em meio às disputas administrativas e judiciais vividas, mas todos eles feitos a partir da perspectiva das instituições de poder, como a Fundação Florestal Fernandes e o Parque Nacional da Serra do Mar. A ideia era mudar a lógica utilizada, de um mapa criado “de cima para baixo” ou “de fora para dentro”, ou seja, das instituições de poder para o quilombo.
O processo cartográfico é feito no tempo dos quilombolas, a partir de sua mobilização, e abrange o resgate da história oral da comunidade, a partir de oficinas e trabalhos de campo, onde são levantados os conhecimentos que eles possuem sobre suas vidas, e é isso que possibilita a construção do mapa coletiva e colaborativamente, feito com os sujeitos da comunidade e para os sujeitos da comunidade, onde o papel da universidade funciona como de facilitadora da apropriação das técnicas, mas quem dita a necessidade e a história é o próprio povo.
Com pilares no desenvolvimento da autogestão da comunidade e da autonomia territorial, é valorizado o saber local, em vista da reprodução do espaço de vida, com ênfase na representação construída pelos quilombolas, de forma que se apropriem de suas histórias e de seus territórios, seus modos de vida e de produção, para que entendam, de fato, a disputa sobre o seu local e façam com que o mapa construído seja mais do que um papel, mas uma representação cartográfica da vida do quilombo.
A experiência de tecnologia social “Cartografia Social e Autogestão Territorial: a experiência cartográfica do Quilombo da Fazenda” faz parte do Catálogo de Tecnologias Sociais de 2019, que você pode ler na íntegra aqui. E para conhecer mais sobre o trabalho que temos desenvolvido na Coordenação de Inovação e Tecnologias Sociais, acesse aqui.