Os desafios do ensino da matemática universitária

maio 3, 2021Fala Bolsista

Por: Eduardo Matias

A vida universitária não é o sonho que os filmes e séries de TV mostram. Para conquistar o diploma e alcançar a carreira dos sonhos que pensávamos ao pisar nesse solo, devemos participar de aulas que nem sempre gostamos, ler textos nem sempre interessantes, conhecer professores nem sempre cativantes. Isso não é novidade para ninguém, afinal, a vida não é flores e a universidade faz parte da nossa vida.

Eu, assim como muitos estudantes de institutos de matemática e estatística, me dediquei muito e estudei até cansar para não ficar preso nas matérias do ciclo básico. Hoje estou a um ou dois períodos de ter o diploma de licenciado em matemática pela Universidade Federal Fluminense. Contudo, o nosso instituto tem uma histórico ruim em relação à evasão e aos resultados dos alunos, especialmente os calouros. Desde 2014, de acordo com o Sistema de Transparência da UFF, as matérias que mais tiveram reprovados nos cursos de matemática foram Pré-Cálculo, Matemática Básica, Geometria Básica (atualmente sob o nome Geometria I e Geometria II) e Geometria Analítica.

Não à toa, existe um motivo que explica isso: existe uma grande diferença entre o fazer matemática do ensino básico e o do ensino superior. Como a academia é um ambiente em que se busca fazer ciência, busca-se um rigor e uma continuidade lógica que não se exige no colégio. Os cientistas da matemática se embasam no raciocínio dedutivo da filosofia clássica, de forma que a partir de um conceito, cada proposição matemática possa derivar diretamente desse conceito ou outras proposições, formando uma malha firme de conhecimentos, em que um teorema sustente o próximo. Por conta disto, discussões cujo desenvolvimento lógico que foge dessa norma não têm a qualidade matemática desejada.

Infelizmente, nem todos os estudantes que ingressam em faculdades de ciências exatas estão acostumados com essa forma de fazer matemática – inclusive, imagino que a maioria não seja – e terão que conhecer através das aulas e de seus professores. Eles que introduzem a ideia de proposições matemáticas, implicações, lógica, axiomática, enfim, a linha e a agulha da malha firme que construirão. Nos cursos de matemática da UFF, esses conceitos têm prioridade em Matemática Básica e em Geometria Básica e o docente sabe que seus alunos precisam compreender bem tal assunto, afinal, se tornarão matemáticos.

Todavia, essa preocupação não existe da mesma forma nas outras faculdades. Engenheiros, químicos, estatísticos e programadores não precisam de tanto rigor matemático: a faculdade deles não formarão matemáticos. No entanto, o seu ciclo básico contém matérias de matemática lecionadas por matemáticos que regem suas aulas com rigor matemático e esperam de seus alunos isso. A partir disso, surge uma disparidade entre os conhecimentos que o aluno trás de seu ensino básico e o que o professor exige.

Surge então, como figura mediadora, o monitor. O monitor, como um estudante que tem certo domínio do conteúdo e que mantém contato constante com os professores e alunos, é capaz de perceber essa dicotomia entre o que o docente quer e o que o discente pode oferecer. E mais: ele pode formar um diálogo entre as duas partes, diálogo que está cada vez mais reduzido por conta do ensino à distância e precisa ser reestabelecido.

Durante os atendimentos, mesmo em EAD, então, é possível, não apenas explicar questões e conceitos, mas também explicar esses temas pertinentes a matemática na academia. É possível discutir a filosofia matemática e discutir com os alunos quais são os anseios do professor. Com o auxílio das reuniões virtuais e de tecnologias mais específicas da matemática, como as calculadoras gráficas Wolfram e Geogebra, ao longo destes dois semestres longe dos campi, houve uma forma de aproximar docentes e discentes no quesito de aprendizado.

Infelizmente, todas as matérias, nessa época de pandemia, têm requerido trabalho adicional de seus alunos. Por conta disso, existe uma parcela dos alunos que não pode frequentar as sessões de monitoria. Ainda assim, os monitores utilizam os ambientes virtuais de aprendizado oficiais e não-oficiais, como a plataforma Google Classroom e a rede social WhatsApp, respectivamente, para atender do horário estipulado.

Em suma, a monitoria nas faculdades de exatas se apresentam como uma excelente oportunidade de desenvolver seus conhecimentos matemáticos e aprimorar-se como parte da comunidade acadêmica. Tendo em mente que os dois próximos semestres ainda se manterão à distância, há motivos para crer que as monitorias terão mais visibilidade aos alunos e professores para se desenvolver em questões de metodologias de ensino e em tecnologias do aprendizado.

Referências

https://app.uff.br/transparencia

BAIRRAL, Marcelo. As TIC e a Licenciatura em Matemática: em defesa de um currículo focado em processos. Jornal Internacional de Estudos em Educação Matemática, Londrina, v. 6, n. 1, pp.1-20, mai. 2013. Disponível em: < https://revista.pgsskroton.com/index.php/jieem/issue/view/19. Acesso em 30 abr. 2021.

GIRALDO, Victor. Formação de Professores de Matemática: para uma abordagem problematizada. Cienc. Cult., São Paulo, v. 70, n. 1, pp. 37-42, jan.  2018. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252018000100012&lng=en&nrm=iso. Acesso em 28 abr. 2021.

SALLES, A., BAIRRAL, M.. Interações Docentes e Aprendizagem Matemática em um Ambiente Virtual. Investigações em Ensino de Ciências, v. 17, pp. 453-466, set. 2012. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/198. Acesso em 30 abr. 2021.

Eduardo Matias é licenciando em Matemática pela UFF. É monitor de Geometria Analítica há 2 anos. Tem experiência com geometria e ensino de matemática à distância. Gosta de músicas barulhentas, e-sports e pipoca com coquinha gelada.

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