Estima-se que 67% dos habitantes detém algum tipo de aparelho móvel (GSMA Intelligence, 2019), porém uma parcela de 15% da população mundial ainda não têm acesso a água, saneamento e higiene (Global Status Report, OMS, 2019), dois indicadores de destaque, que podem nos ajudar a traçar um panorama sobre o acesso às tecnologias e condições básicas de vida.
Com uma população cada vez mais conectada, com a existência de aparelhos celulares indissociáveis de câmeras, a fotografia tem um papel central, onde milhões de fotos são produzidas e compartilhadas por uma sociedade na era imagética.
Unindo as ciências sociais e os estudos sobre a fotografia, surge no final dos anos 90 a metodologia Photovoice, criada por duas sanitaristas norte-americanas, Caroline Wang e Mary Ann Burris. Essa metodologia associa a fotografia e o processo dialógico, este último que pode ser definido como a capacidade de estabelecer processos baseados em diálogo e troca, e traz como referências a teoria da consciência crítica de Paulo Freire, as teorias feministas e a fotografia documental.
A partir desta metodologia, seguindo o propósito de possibilitar às pessoas identificar, representar e melhorar questões locais, o Catálogo de Tecnologias Sociais da UFF é composto pela experiência “Fotografias, Vozes, Saberes e Utopias: A Metodologia Photovoice”.
Legenda: Atividade da experiência “Fotografias, Vozes, Saberes e Utopias: A Metodologia Photovoice (cedida pela professora Maria Alice).
Para falar sobre este tema, trazemos uma entrevista exclusiva com a coordenadora da experiência, a Professora Doutora Maria Alice Nunes Costa, professora no Instituto de Arte e Comunicação Social (IACS/UFF) e no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito (PPGSD/UFF).
Ao aprofundar os estudos nas ciências sociais e na fotografia documental, a experiência tem seu ponto de partida em 2019, com a professora Maria Alice, por meio do Laboratório Social LADER (Laboratório de Políticas Públicas, Governação e Desenvolvimento Regional), realizando o trabalho com jovens, estudantes do Ensino Médio da rede pública de ensino, com o objetivo de analisar seus conhecimentos e vivências, e colaborar para a integração da comunidade escolar, trazendo a metodologia photovoice para coleta e interpretação de dados qualitativos, por meio de debates, oficinas, mostras, workshops, entre outras atividades. Por meio de encontros, os participantes são estimulados a compartilhar temas e assuntos de interesse e capturar fotografias para ilustrar os temas levantados.
Legenda: Atividade da experiência “Fotografias, Vozes, Saberes e Utopias: A Metodologia Photovoice (cedida pela professora Maria Alice).
A implementação de experiências de tecnologia social pode ser uma tarefa com diversas dificuldades. A professora Maria Alice observa que os principais desafios para a experiência de tecnologia social “Fotografias, Vozes, Saberes e Utopias: A Metodologia Photovoice” estão relacionados à licença social para adentrar o campo de trabalho:
“É preciso compromisso, responsabilidade, habilidade, competência e sensibilidade dos profissionais para atuarem com a metodologia photovoice e isso requer um tempo de 6 meses, no mínimo, para a formação e capacitação profissional dos que desejam atuar com esta metodologia.”
Apesar dessa dificuldade, a professora Maria Alice destaca que a metodologia photovoice pode ser capaz de desvendar experiências consideradas não inteligíveis ou subalternizadas, saberes ocultos e fazer emergir novos conhecimentos.
“Cada ser e cada grupo social possui sua narrativa cultural. Não existe um olhar certo ou errado. Assim como não existe uma cultura ou saber certo ou errado. Para olharmos melhor precisamos de outros olhares, pois há inúmeras coisas que um indivíduo não consegue ver ou não quer ver. Cada um olha de acordo com a sua imaginação e a sua cultura. A consciência dessa limitação e incompletude de nosso próprio olhar é simétrica à consciência de que existe uma complexa pluralidade de visões, olhares, perspectivas e saberes (…)”
Cada ser e cada grupo social possui sua narrativa cultural. Não existe um olhar certo ou errado. Assim como não existe uma cultura ou saber certo ou errado. Para olharmos melhor precisamos de outros olhares, pois há inúmeras coisas que um indivíduo não consegue ver ou não quer ver. Cada um olha de acordo com a sua imaginação e a sua cultura. A consciência dessa limitação e incompletude de nosso próprio olhar é simétrica à consciência de que existe uma complexa pluralidade de visões, olhares, perspectivas e saberes.
Legenda: Atividade da experiência “Fotografias, Vozes, Saberes e Utopias: A Metodologia Photovoice (cedida pela professora Maria Alice).
Cada pessoa enxerga a seu modo. Os pontos de divergência são importantes para demonstrar a complexidade das experiências de cada pessoa e a relevância da diversidade de conhecimentos.
“São as constelações e a cosmologia do olhar que nos permitem ampliar nossos horizontes, para podermos dialogar com outras visões e perspectivas, para o fortalecimento de nossa democracia e a devida atenção às demandas populares de políticas públicas estruturantes que o Brasil necessita (…)”, reforça a professora Maria Alice.
E para encerrar a nossa conversa, perguntamos quais dicas a professora Maria Alice daria para alguém que tem interesse em produzir e/ou desenvolver uma tecnologia social, que listamos abaixo:
1- A primeira e principal dica: pergunte a você mesmo se possui motivação, interesse e responsabilidade com as questões sociais que afetam a sociedade brasileira.
2- Estude e se articule em redes de cooperação e colaboração. O trabalho em equipe é fundamental! É impossível realizar sozinho a formulação, o planejamento, a organização e a implementação de uma tecnologia social.
Por fim, para acompanhar o trabalho desenvolvido pela Profa. Dra. Maria Alice e a experiência de tecnologia social “Fotografias, Vozes, Saberes e Utopias: A Metodologia Photovoice”, acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=rbaQcY8I6QM
https://www.youtube.com/watch?v=kS4dHH8VXA0&t=660s
É importante que os projetos desenvolvidos pela universidade sejam destacados e divulgados na comunidade interna e mundo afora, para que possam servir ao seu propósito de desenvolvimento da sociedade.
Se você é estudante, professor ou servidor da UFF, coordena ou faz parte de um projeto de tecnologia social, fique atento às nossas redes. Anualmente é aberta chamada pública para chamamento e registro de tecnologias sociais.
Em breve traremos novidades!
Enquanto isso, conheça e fique por dentro da última edição do Catálogo de Tecnologias Sociais da UFF, clicando aqui.
