A ideia de escolas sustentáveis e saudáveis é um debate que já existe há muito tempo na sociedade. Existem experiências internacionais exitosas voltadas para alimentação e nutrição escolar saudável, na América Latina e África, por exemplo, que trazem a importância de práticas sustentáveis e agricultura familiar para dentro da escola, aliadas às práticas de gestão mais horizontais. E é a partir dessas e outras motivações que surge a experiência de tecnologia social “Escolas saudáveis e sustentáveis: conectando produção e consumo de alimentos conscientes”, presente no Catálogo de Tecnologias Sociais da UFF.
Para falar sobre esse projeto, que visa a redução da distância entre os processos de produção de alimentos e o consumo saudável e sustentável nos espaços escolares, trazemos uma entrevista exclusiva com a coordenadora da experiência, a professora Patricia Camacho Dias, doutora em Política Social (UFF) e professora do Departamento de Nutrição Social da UFF (Niterói).
A experiência de tecnologia social “Escolas saudáveis e sustentáveis: conectando produção e consumo de alimentos conscientes”, por meio de uma pesquisa-intervenção, se dedicou à produção de uma horta pedagógica e autônoma na Unidade Municipal de Educação Infantil Vinicius de Moraes, com o objetivo de servir como um espaço de experimentação para a comunidade escolar, de forma a ampliar as discussões sobre educação alimentar, nutricional e ambiental.
Legenda: Atividade da experiência “Escolas saudáveis e sustentáveis: conectando produção e consumo de alimentos conscientes” (cedida pela professora Patricia Camacho).
O projeto é fruto do amadurecimento de diversas outras iniciativas e funciona no âmbito do Grupo de Extensão, Ensino e Pesquisa em Saúde e Alimentação Escolar, o GEPASE, que conta com dezenas de membros, de graduandas e graduandos a doutoras e doutores, formando uma equipe multi e interdisciplinar, indo desde a Nutrição, Engenharia de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, Engenharia Agrícola e Ambiental, até a Engenharia Elétrica.
“O projeto é estratégico para o tema da garantia do direito de alimentação adequada e saudável nas escolas e para o debate da sustentabilidade ambiental, social e econômica, uma vez que estão utilizando tecnologias sociais, na figura da horta e da compostagem, inseridas no ambiente escolar, para formar os alunos e toda a comunidade escolar no trato dos alimentos e dos resíduos.”
A escola, enquanto equipamento público estratégico, é inserida nessa dinâmica e, junto com os escolares, torna-se a principal favorecida, a partir do fomento do poder público às formas mais justas e sustentáveis de alimentação. A professora Patricia destaca, ainda, que o motor dessa ação é que as práticas com as hortas sejam incorporadas nos projetos pedagógicos da escola, servindo como conhecimento vivo para ser trabalhado em sala de aula.

Legenda: Atividade da experiência “Escolas saudáveis e sustentáveis: conectando produção e consumo de alimentos conscientes” (cedida pela professora Patricia Camacho).
As parcerias estabelecidas, tanto institucionais, quanto com as pessoas que utilizam a estrutura escolar, como os alunos, familiares, professores e os demais funcionários, são fundamentais para o funcionamento e implementação eficaz do projeto. A ideia é auxiliar nessa construção e criar uma coletividade, para que a comunidade escolar siga as ações por conta própria e se mobilize com as pautas da alimentação escolar saudável.
Os desafios são muitos quando se fala desde a fase de projeto até a implementação dessa tecnologia social. A professora Patricia destaca que o tempo é um desses principais desafios:
“Trabalhamos com a Prefeitura de Niterói, na figura da Secretaria de Educação, a Fundação Euclides da Cunha (FEC), no apoio e gestão financeira, e com a Faculdade de Nutrição da UFF, na figura do GEPASE/UFF. Cada uma dessas instituições possui organizações específicas, na gestão do tempo e dos projetos, e é preciso ajustar ao cronograma de cada escola também. Além disso, o planejamento orçamentário também é um dos desafios e que precisa ser ajustado e adaptável com cada realidade escolar.”
Vale ressaltar ainda que os recursos destinados à implementação das hortas é destinado desde ao apoio dos agricultores familiares na instalação das hortas, à aquisição de mudas de plantas, o que necessita de um engajamento em várias frentes. “Para a realização do projeto é preciso que haja um engajamento da comunidade escolar como um todo, especialmente da direção (…)”, destaca a professora Patricia, sendo esse também um dos desafios, que pode promover experiências com êxito ou dificultar o seu avanço.
A replicabilidade do projeto é um outro fator que merece destaque, tendo em vista que o seu escopo pode ser levado para outros ambientes, o que pode auxiliar na promoção do desenvolvimento social em diversos contextos.
“Um dos objetivos dessa tecnologia social é ser vista como um disparador para que o poder público possa adotar as práticas desenvolvidas nos contextos escolares de forma continuativa (…)” – destaca a Profa. Dra. Patricia Camacho.

Legenda: Atividade da experiência “Escolas saudáveis e sustentáveis: conectando produção e consumo de alimentos conscientes” (cedida pela professora Patricia Camacho).
A experiência de tecnologia social corrobora para o pensamento da escola enquanto um equipamento transformador da sociedade, enfatiza a professora Patricia, podendo elevar patamares da relação da sociedade com o alimento, com os resíduos gerados e com a conscientização no uso dos recursos, como a água.
Para encerrar a nossa conversa, perguntamos quais dicas a professora Patricia daria para alguém que tem interesse em produzir e/ou desenvolver uma tecnologia social, que listamos abaixo:
1- Proximidade com o contexto: a academia precisa produzir a partir do diálogo com a sociedade para entender suas reais demandas sociais.
2- Capacidade dialógica: a academia precisa sempre fazer releituras de suas práticas e desenvolver o seu potencial de adaptabilidade.
3- Captação de recursos: sejam eles financeiros, por meio de fomento, sejam eles humanos, com o trabalho coletivo com alunos. Só assim os projetos acontecem!
Por fim, para acompanhar o trabalho desenvolvido pela professora Patricia, com a experiência de tecnologia social “Escolas saudáveis e sustentáveis: conectando produção e consumo de alimentos conscientes”, acesse:
https://www.instagram.com/gepaseuff/
É importante que os projetos desenvolvidos pela universidade sejam destacados e divulgados na comunidade interna e mundo afora, para que possam servir ao seu propósito de desenvolvimento da sociedade.
Se você é estudante, professor ou servidor da UFF, coordena ou faz parte de um projeto de tecnologia social, fique atento às nossas redes. Anualmente é aberta chamada pública para chamamento e registro de tecnologias sociais. Em breve traremos novidades!
Enquanto isso, conheça e fique por dentro da última edição do Catálogo de Tecnologias Sociais da UFF, clicando aqui.