#TSENTREVISTA: Cidade Imaginária Antirracista, uma tecnologia social educacional na luta antirracista

jun 1, 2023Entrevistas, Tecnologia Social

O racismo no Brasil é estrutural e institucionalizado, com práticas discriminatórias que atravessam todas as áreas da vida. O racismo aparece em instituições públicas e privadas por meio de mecanismos discriminatórios de exclusão e desigualdade da população negra, como um reflexo do racismo estrutural que ocorre na sociedade. E é a partir dessas e outras inquietações, surge a experiência de tecnologia social “Cidade Imaginária Antirracista”, presente no Catálogo de Tecnologias Sociais da UFF. 

Para falar sobre esse projeto, uma tecnologia social educacional na luta antirracista, trazemos uma entrevista exclusiva com o coordenador da experiência, o professor Dr. Edimilson Mota, Doutor em Educação pela UFRJ, Mestre em Políticas Sociais pela UENF, com especialização em História do Brasil e Graduado em História e Geografia, e professor do Departamento de Geografia da UFF (Campos dos Goytacazes).

A “Cidade Imaginária Antirracista” é uma experiência de tecnologia social com fins educativos, que funciona por meio de um jogo geo-racial com o objetivo de combater o racismo. Suas peças são formadas por meio do reaproveitamento do descarte de caixas de papelão, que são transformadas em blocos coloridos e escritos, com as palavras de comando, orientação e as peças utilizadas para a realização do jogo. Por meio da criação livre, a partir da imaginação da pessoa, a ideia é a formação de uma cidade antirracista e a reflexão crítica a partir das escolhas definidas.

Fotografia Vozes e Saberes Metodologia Photovoice

Legenda: Atividade da experiência “Cidade Imaginária Antirracista” (cedida pelo professor Edimilson Mota).

De acordo com o Professor Edmilson, a inspiração para a criação da “Cidade Imaginária Antirracista” se deu a partir de sua observação de que a cidade é um lugar onde a segregação ocorre não só pela classe social, mas também pela cor da pele.

“A criação da cidade imaginária antirracista é, no primeiro momento, uma leitura, que trago da minha trajetória como professor de geografia, sobre a segregação das cidades brasileiras, onde a cor define o lugar. As zonas mais nobres das cidades geralmente são predominantes por população da cor branca, enquanto nas zonas mais periféricas, mais excluídas, com menor infraestrutura e maior índice de violência, o que predomina é a população de cor preta ou perda, ou racialmente dizendo, o negro.”

Professor Dr. Edimilson Mota

Coordenador da Experiência "Cidade Imaginária Antirracista"

A “Cidade Imaginária Antirracista” tem importância fundamental para o desenvolvimento social, que vem em sua gênese: o combate ao racismo. A peça central que move a cidade imaginária é a palavra “antirracismo”: 

“Não se faz mais cidade sem pensar em ações, ideias, comportamentos e atitudes antirracistas. Não basta uma pessoa se intitular “não racista”, são necessárias ações antirracistas, e na dinâmica de interatividade da cidade imaginária, a centralidade da palavra de comando é o “antirracismo”, pois não se pensa uma cidade imaginária antirracista sem mover a peça central, a sua palavra de comando (…)”, destaca o professor Edimilson.

As palavras que acompanham a “Cidade Imaginária Antirracista”, organizadas a partir do ponto de vista do jogador, como “educação”, “diversidade”, “mobilidade”, “arte” e “lazer”, precisam necessariamente entrelaçar com a palavra “antirracismo”, que está posta na “Cidade Imaginária Antirracista”, sendo o papel central da intervenção.

Legenda: Atividade da experiência “Cidade Imaginária Antirracista” (cedida pelo professor Edimilson Mota).

Desde a sua concepção e criação, a “Cidade Imaginária Antirracista” possui diversos desafios a serem contornados. Por ser uma instalação artística, depende, no seu dia a dia, de um monitor, no fornecimento de apoio técnico e cuidado com as peças, para que não estraguem e para que fiquem em permanente exposição.

Os seus formatos também são outros desafios. A “Cidade Imaginária Antirracista” possui dois formatos, um voltado para espaços reduzidos de sala de aula e outro para espaços públicos e abertos. O intuito é o mesmo, de ser uma instalação artística pedagógica em que o público interage com ela sem a necessidade de um mediador, mas que ao finalizar a interação é necessário um monitor para reorganizar as peças.

Legenda: Atividade da experiência “Cidade Imaginária Antirracista” (cedida pelo professor Edimilson Mota).

Na versão de sala de aula, a “Cidade Imaginária Antirracista” funciona na Ludoteca Camilo José Gomes, um espaço inédito dentro da UFF, que traz um resgate por meio de seu nome “Camilo José Gomes”, um ex-escravizado, que lutou por sua liberdade no século XIX, em Campos dos Goytacazes.

E na versão de espaço público, é pensada para funcionar em espaços como entradas de museus e praças. Nesse caso, conforme pontua o professor Edmilson:

“Os desafios são o deslocamento do material, com caixas grandes utilizadas nas intervenções públicas, e a manutenção da reposição das peças após as interações do público, o que resulta no desafio maior de, pelo mecanismo estruturante da universidade, se fazer necessária a constante busca de bolsistas para que a ‘Cidade Imaginária Antirracista’ continue existindo e ocupando os espaços (…)”, pontua o professor Edimilson.

Legenda: Atividade da experiência “Cidade Imaginária Antirracista” (cedida pelo professor Edimilson Mota).

Para encerrar a nossa conversa, perguntamos quais dicas o Professor Edimilson daria para quem tem interesse em produzir e/ou desenvolver uma tecnologia social, que listamos abaixo:

1- Não tenha medo de errar: não tenha medo de romper com a sua zona de conforto e buscar o novo;

2- Use a “inquietude” como palavra motivadora: a inquietude nos coloca o tempo todo numa zona de não-conformidade com o que está posto, nos leva a problematizar o nosso próprio estado de acomodação, nos provoca a desafiar e nos leva a criar aquilo que não existe, mas que vai fazer sentido para humanidade e gerar incômodos em torno daqueles que estão na zona de conforto. 

 

Por fim, para acompanhar o trabalho desenvolvido pelo professor Edimilson, com a experiência de tecnologia social “Cidade Imaginária Antirracista”, acesse:
NEPECGIM – Núcleo de Ensino e Pesquisa sobre Espaço e Currículo de GeografiaCidade Imaginária Antirracista no XIV CONFICT – Congresso Fluminense de Iniciação Científica e TecnológicaProjeto Cidade Antirracista suscita um novo olhar sobre a perspectiva de cidade – UFF Campos

 

É importante que os projetos desenvolvidos pela universidade sejam destacados e divulgados na comunidade interna e mundo afora, para que possam servir ao seu propósito de desenvolvimento da sociedade. 

Se você é estudante, professor ou servidor da UFF, coordena ou faz parte de um projeto de tecnologia social, inscreva-se até o dia 15 de junho de 2023 no Edital de Chamamento e Registro de Experiências de Tecnologia Social da UFF. Saiba mais clicando aqui

Conheça e fique por dentro da última edição do Catálogo de Tecnologias Sociais da UFF, clicando aqui.

 

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